segunda-feira, 6 de maio de 2013

O Grêmio, a Arena e a perseguição aos torcedores

Leia: , "A Morte do Imortal sobre a possível colocada de cadeiras no setor da Geral na Arena




O Grêmio entrava em campo quando o som da torcida e o tremer do chão sob os meus pés se acentuaram. As cadeiras azuis a frente e atrás de mim reduziam drasticamente o poder da torcida. Como se já não fosse suficiente sermos punidos pelo erro grotesco de uma empreiteira milionária, não havia ali nenhum bumbo, nenhuma faixa, nenhuma bandeira. Cantávamos pelo Grêmio somente com a vontade de apoiar e talvez por isso tudo estivesse maior.
            Mal acompanhava o andar dos jogadores até o centro do gramado quando senti um emaranhado de pessoas se debruçando e se esquivando. Fugiam de que? De socos e empurrões deferidos pelos seguranças da OAS, dona da Arena, aquele estádio belíssimo onde não se pode cantar.
            Um dos seguranças berrava e apontava o dedo enquanto o outro discava no celular.
            Não demorou muito pra que a corja dos defensores dos “bons costumes” de farda e capacete laranja literalmente invadisse a área da Geral com escudos, armas, sangue nos olhos, arrogância e uma vontade imensa de agredir.
            Dois torcedores foram presos, outros tantos foram agredidos e o espetáculo não parou. A festa da torcida e o apoio ao time devem ser maiores do que a vontade nefasta da Brigada Militar a serviço do poder privado.
            Acompanhei de perto aquela injustificável violência sem sentido provinda dos homens pagos para manter a “ordem” dentro de um estádio feito para viver em silêncio.
            Os homens do capacete foram embora dali. Mas não era o fim.




            O cenário pode ser qualquer jogo na Arena desde a queda do alambrado.

            As invasões e a violência policiais empregada nos últimos meses contra a torcida do Grêmio exemplificam uma relação muito mais ampla: o ódio à resistência.

            Todas as partidas são protagonizadas pelas truculentas ações da tropa de choque do Batalhão de Operações Especiais e todas têm por início uma desculpa: um sinalizador, uma faixa, uma música, um pulo.

            A arena traz em si um ambiente frio, onde o espetáculo foi calado por interesses nefastos em manter o futebol como um teatro.

            Se já não era suficiente tirar os torcedores do seu espaço, roubarem-lhes todos os aparatos para transformar o estádio em um local de efervescência, denegrir a imagem da torcida e inventar acusações difamatórias, os responsáveis pela “ordem” invadem aquele antro estreito – o que restou da alegria monumental – para agredir quem tenta torcer.

            Não foi uma exceção, é a regra em todas as partidas: a Brigada Militar cerceia a liberdade do torcedor e o agride sem nenhuma justificativa.

            Esse afronto ao direito de torcer não só é arbitrário por parte dessa instituição costumeiramente agressiva, mas também é cabível de averiguação judicial, as repetidas investidas contra torcedores nas arquibancadas, nos corredores e até no entorno do estádio não são fatos coincidentes e não podem ser tratados como mero acaso.



            O futebol moderno, vendido a parcerias esdrúxulas e estádios de empresas privadas nos encaminhou para o fim das torcidas ativas: o telespectador médio, rico, que assiste ao jogo em sua confortável poltrona dentro de um estádio silencioso não virou só sonho da imprensa, dos governantes e das empresas, virou modelo a ser seguido com sanção de pena física para quem não cumprir.


            As ações do BOE são mais uma tentativa de esgoelar o torcedor participativo não-telespectador, são parte de um plano bem maior, bem mais antigo e bem mais vitorioso.


            A polícia age, hoje, na arena, como os olhos, os ouvidos e principalmente os braços da OAS, garantindo ao torcedor médio, da burguesia branca, o direito de somente aplaudir, sem ter de ouvir gritos de apoio; uma polícia a total serviço de segurança privada, fazendo o papel de guarda-costas dos seguranças da empresa.


            Por trás dos panos, a mídia de massa vira “advogada do diabo” e a repercussão do que acontece na Arena vira notícia em âmbito nacional. Regionalmente, uma empresa historicamente vendida aos interesses financeiros transnacionais trabalha tentando botar o torcedor gremista contra ele mesmo, fazendo da torcida ativa um agregado de “adolescentes baderneiros que só querem fazer bagunça”, um vício de linguagem de quem está acostumado a odiar e fazer campanha contra tudo que agrida seus “parceiros” econômicos.


            Tudo isso, somado a uma exagerada campanha da CONMEBOL (se compararmos com o caso da torcida do Cortinthians e sua respectiva punição, por exemplo), resulta em uma caça ao torcedor inconformado que ainda enxerga na Arena um estádio inimigo, a casa do vizinho; somos tratados como inimigos dentro do próprio estádio, pagamos ingressos de valores astronômicos  para enfrentar a fúria da tropa de choque, jogo após jogo, sem nenhuma notícia na mídia ou pronunciamento pelo poder público.

            Falta um estádio do Grêmio para o Grêmio e seus torcedores, falta responsabilidade e menos interesse lucrativo por parte da empresa que fez o estádio, falta comprometimento da diretoria gremista em assegurar que o Grêmio não se transforme em um clube elitista de futebol europeu, de modo que não seja mais proibido torcer dentro do próprio estádio e flata, por fim e mais importante, comprometimento do torcedor gremista em apoiar seu próprio time, não resignar-se diante das imposições e não se transformar em um mero telespectador.



ÓDIO ETERNO AO FUTEBOL MODERNO
O GRÊMIO É DA TORCIDA
POR UM FUTEBOL DO POVO
TORCER NÃO É CRIME!





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